Operação "Nova Frente III"


Terminou em 29 de Setembro a terceira fase da Operação "Nova Frente" – a primeira que envolveu a "exumação de restos mortais", consequência das duas acções de reconhecimento anteriormente concretizadas em Moçambique pela Liga dos Combatentes. Foi pleno o apoio que a Liga recebeu do Governo de Moçambique para possibilitar a exumação de restos mortais de militares portugueses tombados na Guerra do Ultramar, devendo salientar-se a coordenação que o Ministério dos Combatentes de Moçambique efectuou com o Ministério da Saúde e com o Ministério da Administração Estatal daquele País Irmão, recebendo em audiências e credenciando a Equipa da Liga por forma a garantir a sua deslocação e actuação no terreno, facilidades de contacto com as autoridades locais e bem articulado apoio destas para a Missão que a Moçambique nos levou.

Salienta-se ainda a acção de apoio da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional Moçambicana, sempre disponível e pronta a colaborar com a Equipa da Liga nos diversos distritos percorridos no território de Moçambique, com o apoio das suas Delegações Provinciais.

Não obstante a especificidade da Missão da Liga, cumpre-nos registar a plena aceitação e compreensão que ela suscitou nas autoridades do Governo Central e Local, possibilitando um excelente clima de entendimento e apoio em torno da Missão a desenvolver, abrindo claramente portas de entendimento para as futuras Missões que nos levarão a Moçambique. Durante a estadia em Maputo, a Equipa da Liga foi recebida pelo Embaixador de Portugal em Maputo, pelo Ministro dos Combatentes e pelo Secretário da Associação de Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), sendo presenteada com um jantar oferecido pelo Ministro dos Combatentes e onde estiveram presentes muitas individualidades da ACLLN.

A Liga desenvolveu acções de exumação nas Províncias de Gaza (Chibuto), Zambézia (Gurué) e Nampula (Malema). A dispersão dos locais intervencionados obrigou a que fosse efectuado um deslocamento demorado e de alguma forma gravitando em torno de Nampula, cidade onde a Liga tinha tarefas de fundo a consolidar em sintonia com o seu plano de acção. Foram efectuadas quatro exumações, uma em Chibuto, duas em Malema e uma em Gurué, sendo transportados os restos mortais por via aérea ou por via terrestre para o ossário da Liga dos Combatentes em Nampula. A exumação efectuada em Chibuto foi concretizada pela Equipa da Liga com a intervenção técnica de uma agência funerária de Maputo, a qual após a exumação se encarregou de guardar os restos mortais na morgue da capital moçambicana e posterior envio por via aérea para Nampula onde foram desalfandegados pela Equipa da Liga. A intervenção da agência funerária deve-se à especificidade do transporte de Chibuto para Maputo (300Km), deposição na morgue do hospital da cidade e posterior envio por via aérea para Nampula, passos que logisticamente possuem a sua especificidade e exigem rigorosa observância das normas impostas pelo Ministério da Saúde Moçambicano. Todas as outras exumações foram executadas pela Equipa da Liga sem auxílio de agências funerárias, sendo o transporte dos restos mortais efectuado por via terrestre e para Nampula.

Nas acções de exumação efectuadas, o percurso técnico para a sua execução exigiu contacto local com o Administrador do Distrito, Presidente do Conselho Municipal, autoridades policiais, autoridades sanitárias e chefes de tabanca. As acções de contacto com as autoridades foram sempre interessantes e produtivas, a equipa da Liga era aguardada por estas em função de prévios contactos do Ministério dos Combatentes e isso tudo simplificou o desenvolvimento da actividade da Liga e possibilitou amistosos contactos pessoais com as autoridades Distritais. A execução técnica das exumações exigiu contactos com os Chefes de Tabanca para se encontrar mão-de-obra interessada em "cavar sepulturas", actividade que nalguns locais era culturalmente sensível em ser aceite e carecia de negociação para se efectivar. Recordamos que em Gurué foi o Administrador que nos sugeriu a presença de uma equipa de dois "religiosos" para efectuarem as orações pós exumação…

Em Nampula, a Equipa da Liga estabeleceu contactos protocolares com o Presidente do Conselho Municipal, aproveitando o ensejo para solicitar autorização para requalificar o Talhão dos Combatentes da Guerra do Ultramar no cemitério da cidade (66 campas) – tarefa que já foi adjudicada a uma empresa local – aproveitando ainda para agradecer as facilidades concedidas na construção do ossário (35 alvéolos) e mais solicitando que fosse autorizado o acesso aos livros de registo cemiterial a fim de se identificarem nominalmente as campas do Talhão dos Combatentes, até agora só identificadas com um número. Não sendo a localização dos livros uma tarefa fácil, diversos contactos e pesquisas camarárias proporcionaram que chegassem às nossas mãos, garantindo a possibilidade de na acção de requalificação do Talhão serem a maioria das campas identificadas pelos nomes daqueles que nelas repousam. Passo a passo, a nossa missão ia avançando, caminhava para o final e os objectivos a que nos propuséramos iam sendo alcançados com sucesso.

Ainda em Nampula, houve lugar a uma singela mas digna cerimónia de deposição das urnas devidamente identificadas no ossário da Liga dos Combatentes, urnas concentradas em local dignificado e disponíveis para acções futuras que eventualmente as famílias entendam por oportuno desenvolver.